Emotions... Why not?

Um blog que procura ser uma viagem, à procura das emoções humanas.

A minha foto
Nome:
Localização: V.N.G., Porto, Portugal

Emotions seeker...

02 agosto, 2007

Onde param as nossas figuras públicas?

"Longe vão os tempos em que as nossas figuras públicas eram os nossos poetas, os nossos músicos, os nossos actores talentosos, no fundo, aqueles que se destacavam pelos seus feitos. Quem não lembra saudosamente o nosso Fernando Peça, a Amália Rodrigues, o Vasco Santana ou o Zeca Afonso? Nessa altura a revista “Maria” devia ser a única publicação nacional que se focava nos actores das telenovelas (todos brasileiros), e nos poucos portugueses que iam dando os primeiros passos na tentativa de fundar o “Jet Set” português.
O “Jet Set” surgiu em Inglaterra, nos anos 50, e a aparente alusão do termo a um avião a jacto, ao contrário do que se possa pensar, não é coincidência. Inicialmente, os senhores do “Jet Set” eram os senhores da elite financeira, que tinham poder económico para andarem de jactos particulares, daí o termo “Jet Set”. Ora, actualmente é certo que os cidadãos pertencentes ao “Jet Set” português, não têm propriamente dinheiro para comprarem aviões a jacto… Basta pensar em todos os ex-concorrentes dos mais variados concursos do tipo “Big Brother”, todos eles passaram a pertencer ao “Jet Set”... Ainda me lembro do Sr. Artur Albarran apresentar uma pérola da televisão portuguesa, o programa “Acorrentados”, programa este que terá sido um grande fornecedor de celebridades para as revistas da especialidade…
Assim, torna-se evidente que há dois tipos de pessoas no “Jet Set”. As primeiras são as descartáveis, são de usar e deitar fora, e provêm fundamentalmente de programas do tipo “Big Brother”. As segundas, são as renováveis, que à custa de pillings, colocações de Botox ou silicone numa qualquer parte do corpo, romances ensaiados, alterações de penteado/coloração do cabelo, plásticas e outros malabarismos estéticos e verbais se vão mantendo na mó de cima…
Quanto aos primeiros não assustam ninguém, mas no que se refere aos segundos… Que modelos são estes? A Paula Bobonne e as suas regras de etiqueta, o Macaco Adriano e o João Baião, a Lili Caneças, o Herman José, o José Castelo Branco, o Cláudio Ramos, a Betty Grafstein, a Bibá Pitta, a Cinha e a Pimpinha Jardim, e claro, o nosso D. Duarte e a sua Isabelinha... Confesso que depois de citar todos estes nomes quase me vêm as lágrimas aos olhos… Peço desculpa mas… “Bibá Pitta”? O que quererá isto dizer? O que é que passa pela cabeça duma pessoa para se auto-denominar como Bibá Pitta? Com um nome destes o objectivo só pode ser passar a fazer parte dos trocadilhos da malta das obras… Meus caros, o que me parece é que isto de pertencer ao “Jet Set” virou profissão, e para se ser um bom profissional só tem que se ser tão pindérico e ridículo quanto possível…
Devo realçar que por muito que me custe compreender estes senhores e vê-los constantemente nas capas das nossas revistas e tablóides, isso é problema deles. Agora, o que me custa realmente compreender é que as pessoas gastem dinheiro para comprarem este tipo de publicações. É que quem paga as extravagâncias destes senhores somos todos nós, os que compram as revistas, os que consomem o lixo televisivo onde eles aparecem, e ainda pior, aqueles que não têm outra opção que não seja crescer a ver estes senhores na televisão e quiçá a querer ser como eles… Por incrível que pareça, e por mais lamentável que seja, a verdade é que estes senhores já fazem parte da nossa memória colectiva, da nossa cultura, colam e não descolam mais…
Talvez os pedagogos deste país devessem raciocinar sobre este fenómeno do “Jet Set” e sobre como conseguir dar outras referências aos nossos jovens, porque eles precisam delas e precisam que sejam boas. Acabo por concluir que felizmente temos a Floribela e os Morangos com açúcar, que pertencendo ao “Jet Set” descartável, reacendem a esperança de que desapareçam de cena e mais ninguém se lembre deles…
Depois disto tudo, na sombra continuam Sobrinho Simões, António Damásio, Maestro António Vitorino de Almeida, José Saramago, António Lobo Antunes, Teresa Salgueiro e tantos outros… A minha esperança é que António Damásio, um reputadíssimo Neurologista e Neurocientista português, que além de muitos outros aspectos, estuda as áreas cerebrais responsáveis pela tomada de decisões e conduta, descubra qual a perturbação de que padecem estes senhores do “Jet Set”, cujas decisões e conduta me parecem merecedoras de uma investigação aprofundada…"
in "Roda Viva"