Emotions... Why not?

Um blog que procura ser uma viagem, à procura das emoções humanas.

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Emotions seeker...

04 junho, 2006

O Regresso

-Onde vais?
-Oh! Vou ali e já volto.
-Tem cuidado com os espinhos do caminho que traças.
-Eu disse que já volto!
-Sim, mas tem cuidado...

-Voltei!
-Porque demoraste tanto tempo?
-Porque não te dei ouvidos!
-Não! Porque precisavas aprender a lição.
-Mas perdi tempo para aprendê-la...
-Perderias muito mais sem a saberes. Agora sabes evitar os espinhos...
-Não, não sei... Simplesmente tenho medo deles...
-Receias as marcas que te deixaram no corpo.
-É Verdade!
-Então de nada te valeu a lição...
-Valeu sim! Aprendi a evitar os espinhos, agora evito-os.
-Não! Não valeu! Devias ter aprendido a acariciá-los, a moldá-los. Devias tê-los convencido a não te picarem mesmo que lhes tocasses.
-Porque dizes parvoíces?
-Não, não lhes chames isso, não sejas ignóbil!
-Vá diz-me lá tudo o que pensas dos meus actos e da minha demora em chegar. Pica-me com os espinhos que envergas nessa tua carapaça. Com os espinhos que tu também não acariciaste!
-Não! Não quero...
-Pensas que não vives tu também cercada de espinhos dos quais não tens consciência? Admite-os tu também.
-Tu que foges dos teus e que não cumpres a tua palavra, como ousas dizer-me tal coisa?
-Não sejas tu ignóbil! Julgas que alguém escapa aos espinhos, julgas que algum humano é capaz de dominar o espeto de todos os espinhos? Admite as tuas fraquezas, por quem te tomas?
-Por alguém que ousa compreender e acariciar os espinhos...
-Julgas-te Deus?
-Oh! Deus não existe!
-Deus não existe mas tu és serva de ti própria!
-Sim, mas isso é porque Deus existe dentro de mim própria.
-Então Deus existe!
-Chama-lhe o que quiseres...
-Chamo-lhe Deus então.
-Não lhe chames essa palavra tantas vezes invocada em vão e no vácuo. Aprende a acariciar os teus espinhos, e conhecerás Deus.
-Que falta de modestia!
-Não! Não se trata de falta de modestia, trata-se de admitir a nossa pequenez, mesmo com Deus dentro de nós, com espinhos que dominamos e com outros que envergamos na carapaça.
-Admites que exibes espinhos quando te enrolas na casca...
-Admito, porque Deus não existe em nenhuma outra dimensão para além daquela que deambula no meu íntimo.
-Está bem!
-Pois está bem! Mas tu demoraste, e agora tenho todos estes espinhos na carapaça para que aprendas a moldar a acariciar e a amar. Alimentaram-se da tua ausência. E agora que chegas, este tempo depois, e nem sequer a lição aprendeste. Desiludes-me!
-Sim, mas amo-te ainda assim.
-Ah! Não sejas cobarde, não tivesses tu partido e os espinhos que envergo não estariam comigo.
-Não tivesse eu partido, e nunca teria aprendido a viver com eles.
-De que te adiantou aprender a viver com eles, se foges deles? És um fugitivo, um eremita, por quem te tomas tu?
-Não sejas cruel comigo. Eu sou humano.
-Sim és! E fraco...
-Vou então partir de novo.
-Vai então e não voltes que agora vou aprender a acariciar os meus espinhos com a tua ausência definitiva.
-Envergá-los-ás para sempre e a culpa é minha. Desculpa.
-Não me digas isso...
-Danificamos o amor e agora é irrecuperável, assassinado pelos espinhos que fomos aprendendo a envergar para ameaçar as fraquezas dos outros.
-Somos fracos porque nos julgámos fortes quando envergamos espinhos na carapaça.
-Seríamos fortes se reconhecêssemos as nossas fraquezas sem eles.
-Tenho espinhos para ti e amo-te ainda assim...
-Vou então partir.
-Não voltes nunca mais.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É das coisas mais tocantes k escreveste (a meu vêr)... Demonstra bem o homem sincero e puro k ainda consegues ser. Beijinhos

9:12 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

somos ou não seres estranhos?...ter medo dos espinhos que nós proprios criamos na nossa vida...um acto de verdadeira reflexão...bjocas p ti

3:37 da tarde  
Blogger S. said...

Será esse o diálogo interior q travas - q travamos - para perceber, para arriscar, para talvez não querer descobrir...? Para experimentar os espinhos da vida, aprender a estancar as feridas que eles rasgam na nossa alma e nos nossos ideais e depois saber acariciá-los e convencerem-nos a não nos picar...?
Cada vez melhor, tu sabes :)

5:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tantas situações que nos acontecem e inconscientemente “caímos” nelas e aprendemos. É melhor tarde do que nunca!
Nem sempre podemos acreditar e aprender com a experiência dos outros, e o ouvir não é suficiente.
Agora cabe na humildade de cada pessoa decidir a sua vida e aprender a pedir desculpa e a aceitar o perdão.

Parabéns o texto é magnifico!

10:59 da manhã  
Blogger MIL96VII said...

Entrei num "acaso" através de um registo que há mto não procurava. Chamou atenção um comentário que me fez entrar e fiquei feliz no registo destas palavras. Vou voltar para ler e reler alguns textos e depois com mais "tempo" se não te importares irei comentar de forma a dar continuidade a estes dialogos que nos apresentas.
Um grande abraço

1:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A vida está sempre cercada de espinhos que não conseguimos e por vezes não queremos moldar.... o pior é quando perdemos quem amamos porque não aceitamos os seus espinhos e tentamos compreende-los!!! Está lindo! Beijos Jo

1:51 da tarde  

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