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08 setembro, 2006

Descargo de Consciência


Entre aquilo que somos e aquilo que nos
condiciona está perdida algures a nossa autenticidade. Sem nos apercebermos remetemo-la constantemente para segundo plano.
Há constantemente coisas que fazemos sem sabermos porquê… Muitos dizem que as fazemos por descargo de consciência, mas o que quer isso dizer realmente?
Impõe-se então a questão, porquê o pé direito, porque é que à terceira é de vez, porque é que os gatos pretos dão azar, porque é que um trevo de 4 folhas dá sorte, porquê os amuletos da sorte e outros tant
os artefactos que insistimos em usar para nos protegerem disto e daquilo, porquê?
A resposta é: por Descargo de Consciência! “Se não fizer bem, mal também não faz”. Pois parece-me que o descargo de consciência faz mal ao nosso livre arbítrio. Tudo bem que não é pelo facto de acharmos que despejar azeite à mesa dá azar que somos menos autênticos ou livres. Mas de qualquer das formas parece-me estranha a forma como coisas tão absurdas nos penetram na mente. Uma consciência livre começa nesses pequenos pormenores…
Porque é que tanta gente reenvia “mails” do género “se reenviares este e-mail a 100 pessoas os teus desejos concretizar-se-ão em 5 minutos, se não, terás 10 anos de azar.” O que pensarão as pessoas que reenviam estes “mails”? Que a sina da sorte e do azar anda perdida entre as ligações electrónicas e as bases de dados da rede de comunicações global? E porque é que as pessoas não deixam de reenviar esse tipo de “mails” logo que vêm que à passagem do 5º minuto os seus desejos não se concretizaram? Por descargo de consciência! Será que as pessoas têm noção de que existem pessoas que ganham milhões dedicando-se a aproveitar esse tipo de mensagens para se apoderarem dos endereços alheios e vendê-los a agências de publicidade que pagam caro pelas listas de endereços às quais posteriormente enviam publicidade?
Além disso, há qualquer coisa no “descargo de consciência” que me faz lembrar da diferença entre aqueles alunos que estudam para o exame, e aqueles que não estudam e depois, por descargo de consciência, levam o seu trevo da sorte, ou quiçá a sua pata de coelho, e entram de pé direito na sala, benzendo-se e pedindo a ajuda divina…
Ora bem, a não ser que se escreva o copianço na quarta folha do trevo, ou na sola da bota do pé direito, quem estuda para o exame tira certamente melhores notas por isso não vejo qual a vantagem dessas acções que se fazem por descargo de consciência…
Posto isto, começo a achar que o Descargo de Consciência tem a ver com outra coisa. Quando o aluno que estuda se sai mal no exame, pensa que talvez devesse ter estudado mais. Mas aquele que se benze e clama pela ajuda da sorte, quando tem um mau resultado não questiona a eficiência do seu método, parece nunca perceber o que raio terá corrido mal… Se calhar, além do trevo, devia ter levado uma ferradura de cavalo para dar sorte, ou então esqueceu-se de entrar com o pé direito na sala, ou pior ainda, terror dos terrores, avistou um daqueles animais ronronantes de quatro patas preto.
Infelizmente parece-me que o exemplo do aluno que estuda e do aluno que confia nos trevos, pode analogamente adaptar-se a uma série de outras situações… Estou a lembrar-me por exemplo que sempre que entro num shopping me interrogo sobre o porquê das pessoas não caminharem nos tapetes rolantes. O mundo stressante em que vivemos faz-nos andar sempre com pressa de um lado para o outro. Então, colocaram tapetes rolantes nos centros comerciais para que fosse possível às pessoas deslocarem-se mais rapidamente lá dentro. Agora pergunto eu, será que já alguém reparou que os tapetes rolantes são extremamente lentos? Fico então sem perceber o porquê de sempre que alguém lá coloca o pezinho deixar imediatamente de mover as perninhas em cima desses objectos rolantes. É certo que demoram o triplo do tempo a chegar onde quer que seja em cima daqueles tapetes, mas 99% das pessoas optam por ir paradas lá em cima e isto só pode querer dizer uma coisa: as pessoas gostam de ser levadas onde querem sem terem que se esforçar. Os tapetes rolantes são portanto trevos de quatro folhas disfarçados, são três pancadas secas num pedaço de madeira, são descargos de consciência, assaltam-nos como loucos convencendo-nos a não usar os nossos próprios meios…
Fora de exemplos irónicos que só tocam ao de leve as situações que verdadeiramente se pretende retratar, a verdade é que parece que as pessoas pensam que a sorte ou o azar anda por aí aos pontapés, mas não anda…
Criam-se uns mitos estranhos que não se percebe de onde vêm e ouve-se tão frequentemente o “dizem que…” que muitos o tomam como verdade absoluta… É a sabedoria do Povo dirão uns, o senso comum dirão outros querendo dizer a mesma coisa. Mas eu continuo a achar que o que fazemos por descargo de consciência se reveste realmente duma consciência descarregada pois está próximo da incompreensão e incoerência, mais parecendo um acto inconsciente.
Na minha modesta opinião, “descargos de consciência”, sejam lá quais forem, não resultam. Claro que quem quiser acreditar que assim não é, pode sempre dizer um “ai livre-nos deus nosso senhor” e bater três vezes na Madeira, certificando-se de que é mesmo Madeira e da boa, para que tal afirmação não possa nunca tornar-se verdade…
A não ser que… já seja verdade…

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não discordando da totalidade do texto, será que não resulta mesmo?

Eu queria ter entrado em um de três cursos, e escolhi um quarto por descargo de consciência.

E eis que, por sorte ou azar, é nesse que me encontro actualmente e estou bastante satisfeito.

Anyway, gostei bastante do ponto de vista.

12:44 da manhã  

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