Emotions... Why not?

Um blog que procura ser uma viagem, à procura das emoções humanas.

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Emotions seeker...

21 janeiro, 2006

O patinho feio...

Era uma vez um patinho, que como tantos outros nasceu depois de dar a bicadinha na sua casca. Ao seu lado, mais patinhos quebravam a casca e despertavam para a vida. Começava a sua aventura e tudo estava ao seu alcance. No meio de tantos patinhos, havia um que era diferente, vamos então chamar-lhe o patinho feio. Aparentemente esse patinho era exactamente igual aos demais, mas no seu íntimo ele sabia ser diferente. Talvez lhe devêssemos chamar o patinho lindo, e era-o. Mas aos olhos dos demais o patinho era feio porque era diferente. Não se amontoava com os outros para comer desenfreadamente, nem se pavoneava enquanto abanava as penas do rabinho. E muitas vezes, em vez de chafurdar no lago, ficava a observar o que estava para além dele. Podemos dizer que era um patinho com horizontes, gostava de ficar a olhar as montanhas. As suas necessidades passavam por mais do que abanar o rabo, chafurdar no lago e comer. Até a mamã do patinho achava estranho o seu comportamento.
Mas esse patinho tinha um dom. Todos o olhavam de lado, mas todos o admiravam secretamente pela sua coragem de olhar para além do lago, e para além das penas do próprio rabo. Aliás ele nem se preocupava com elas apesar de serem belas e sedosas.
O patinho não compreendia. Todos os dias eram iguais para os seus pares, procurar comida, pavonear-se um pouco e chafurdar no lago. O patinho insistia em olhar para além das montanhas e achava que havia mais patinhos como ele, mas que pelas mais diversas razões fingiam ser iguais aos outros. E assim continuavam a chafurdar alegremente no lago todos os dias.
Mas o patinho feio acreditava em sensações mais intensas e profundas do que chafurdar. Convenceu-se que as asas que tinha e que aparentemente não serviam para nada tinham de ter alguma utilidade. Acreditava que as asas tinham de servir para ir ver os seus horizontes. Então em vez de chafurdar no lago e dar uso às suas patas, decidiu experimentar as suas asas.
O patinho feio aprendeu a voar, a custo claro, mas aprendeu a voar. De cada vez que o fazia voava tão alto... e nunca tinha medo de caír. Mas caia muitas vezes. Ficava triste, mas não desistia de voar de novo.
Muitos dos demais continuavam a olhá-lo de lado, mas secretamente admiravam-no. Alguns, os mais corajosos tentaram voar também mas desistiram à primeira tentativa. De cada vez que regressava ao solo, pensava se seria possível voar sempre, sem ter de voltar a terra. A exaustão era mais forte que ele. O patinho feio mantinha-se solitário e nostálgico apesar de já ter ido mais longe que qualquer outro patinho da sua espécie. Afinal era o único que sabia voar.
Mas ele queria ir ainda mais longe, gostava de poder voar acompanhado, mas acima de tudo, gostava de voar.
Aparentemente, para os outros patinhos isso não era visto como uma grande proeza, eles nunca tinham reparado nos horizontes que os cercavam, loucos que estavam por chafurdar no lago e abanar o rabo. Mas no fundo todos gostariam de saber voar... E no fundo estava ao alcance de todos aprender a voar.
E assim enquanto os seus pares continuaram a chafurdar no lago, abanar as penas do rabo e comer desenfreadamente. O patinho feio voava e seguia em busca do seu querer, ainda que não soubesse onde iria parar a cada voo, ele sabia que o seu querer ainda não tinha sido atingido, e se não morresse feliz haveria de morrer a tentar sê-lo. Mas ele sabia que não poderia ser feliz a chafurdar no lago, nem a abanar as penas do rabo. Nem acreditava que os demais fossem felizes assim.